Genética
A HERANÇA GENÉTICA
Há séculos que o Homem se debruça sobre a herança genética, acreditando-se inicialmente que as características eram herdadas através do sangue.
A primeira abordagem científica deve-se a Gregor Mendel, monge austríaco que desvendou, em 1865, o complexo mecanismo da herança genética, embora não tivesse ideia de como e onde estavam distribuídos nas células germinativas ou gâmetas os factores responsáveis pela hereditariedade (Material genético).
As diversas experiências efectuadas evidenciam que é no Núcleo que se encontra o código químico, o qual é constituído por moléculas em forma de espiral, de diferentes comprimentos e que são denominadas moléculas de ADN – ÁCIDO DESOXIRRIBONUCLEICO.
«O Núcleo é o centro que assegura a permanência e a transmissão do material hereditário, do qual depende a realização de caracteres hereditários, sendo o citoplasma a parte da célula onde são recebidas e executadas as informações emanadas do núcleo, que se traduzem em reacções, estruturas e formas. O ADN é o material hereditário e os cromossomas são os corpos mais importantes do núcleo. Na constituição dos cromossomas entram fundamentalmente o ADN e também o ARN ( Ácido Ribonucleico e proteínas »
Estas moléculas de ADN, de tamanhos variados, presentes no núcleo são os cromossomas.
Os cromossomas armazenam todas as informações necessárias - Genes que caracterizam os seres vivos.
Assim, na fecundação o espermatozoide (gâmeta masculino) encontra-se com o óvulo (gâmeta feminino), dando origem ao ovo ou zigoto que por divisões sucessivas formará um novo ser o qual herda factores (características) dos pais.
A CÉLULA; OS CROMOSSOMAS; OS GENES
A célula, que é a menor parte de um ser vivo, é constituída por três partes fundamentais:
· Membrana - Define exteriormente a célula.
· Protoplasma - Matéria viva que tem a consistência da clara do ovo.
· Núcleo - Ocupa o centro da célula, tem a forma dum corpo esférico, contendo os cromossomas, responsáveis pela
transmissão dos caracteres hereditários, e estes, por sua vez, são formados pelos genes.
Assim, um ovo de canário representa uma célula que dará vida a um ser complexo.
As referências genéticas situam-se, no núcleo, mais precisamente, nos genes.O número de cromossomas é sempre par e constante numa determinada espécie. No canário , para alguns, é de doze (12), para outros , é de dezoito (18).
FORMAÇÃO DOS GÂMETAS
No momento da fecundação os gâmetas fundem-se dando origem a novos seres – machos ou fêmeas.
Os espermatozoides – gâmetas masculinos ao fecundarem o óvulo – gâmeta feminino , originam o ovo fecundado, denominado também de zigoto, constituído apenas por uma única célula.
Um óvulo fecundado ou zigoto tem um número normal de cromosomas (diploide), porquanto herda características do pai e da mãe, dando-se lugar à fixação das características genéticas dos pais ( qualidades e defeitos ).
O ADN - ÁCIDO DESOXIRRIBONUCLEICO, responsável pela mensagem genética, é parte integrante e constitutiva do cromossoma.Portanto, os cromossomas através dos genes ( moléculas de ADN contidas nos cromossomas) são os responsáveis pelas transmissões dos caracteres genéticos hereditários.
Todavia, em genética surge, por vezes, o termo mutação que deverá ser entendido como uma modificação espontânea de um gene, que em determinado momento passa a produzir características completamente diversas daquelas que vinham, até então, a ser manifestadas na descendência.
O CANÁRIO ANCESTRAL E A SUA CARGA GENÉTICA
Todos os canários herdaram os elementos cromáticos do canário silvestre ( Verde Acinzentado), corolário da existência de três cores fundamentais:
· PRETO - Adveniente do pigmento melânico denomimado ( EUMELANINA)
· MARROM - Devido à presença da FEOMELANINA.
· AMARELO - Resultante de uma substância denominada lipocromo (Graxa) .
A cor verde é o corolário da combinação das cores supracitadas.
A eumelanina e a feomelanina, pigmentos melânicos, exteriorizam-se na plumagem do canário devido à presença de dois fermentos:
· polipocromo incolor que se transforma em lipocromo amarelo;
· fermento de oxidação, originando o preto e o marrom.
MULTIPLICIDADE DE CORES - COMPONENTES DE UMA COR
· CORES GORDAS ( CAROTENOIDES OU LIPOCROMOS )
Os carotenoides são substâncias que quando ingeridas e assimiladas (no fígado), via corrente sanguínea, são transformadas e cristalizadas no cálamo ( canudo da pena ). Exemplos de cores gordas:
· Amarelo - Influenciada pela xantofila.
· Vermelho - Potenciada pela Cantaxantina.
· Branco - Existem mutações ( Branco dominante; branco recessivo) e que são o corolário da falta de fixação de pigmentos nas penas.
· CORES ESCURAS OU MELÂNICAS ( VERDE; AZUL; ARDÓSIA)
As melaninas são pigmentos ou substâncias corantes que vão do amarelo claro ao negro profundo e não dependem da alimentação.
A síntese da melanina é um processo biológico muito complexo em que intervêm fermentos específicos, dando origem à eumelanina e feomelanina.
O mosqueado é fruto da ausência da melanina em partes bem delimitadas, conquanto que a ausência absoluta dá origem aos «albinos».
Nas cores supracitadas aparecem com frequência canários intensivos. Estes canários são geralmente mais pequenos e elegantes e a plumagem é mais fina e abundante.
O acasalamento de canários intensivos gera um factor letal , redundando numa menor probabilidade de sobrevivência dos canários jovens, além de demasiado esguios; logo, o ideal é acalar-se um intensivo com um não intensivo ou nevado.
O acasalamento de canários nevados produz filhotes mais volumosos, todavia evidenciam maior propensão para o aparecimento de quistos.
AS MUTAÇÕES
· GENÓTIPO; FENÓTIPO; CARIÓTIPO
· AS CORES CANELA; ÁGATA; ISABEL
Mutação de um gene é uma alteração química na constituição do ADN desse gene.
· CARIÓTIPO - Conjunto de todos os cromossomas de uma célula.
· FENÓTIPO - Conjunto de todas as características externas e internas dum canário( Cor; tamanho; plumagem; forma;
fertilidade; tamanho dos ovos; etc. ).
· GENÓTIPO - Conjunto de todos os genes que estão localizados no conjunto dos cromossomas existentes em cada
umadas células.
As cores canela, ágata e isabel consubstanciam mutações genéticas, surgidas ao longo dos anos, que materializamos nos seguintes considerandos:
· CANELA - Caracteriza-se pelo desaparecimento do pigmento preto e a permanência do marrom sobre a cor de fundo amarela.Constituída apenas por duas cores :- lipocromo amarelo e feomelanina marrom.
· ÁGATA - Fruto da diluição (esmaecimento) parcial dos pigmentos melânicos – preto (eumelanina) e marrom (feomelanina).Os canários ágata apresentam uma pigmentação (cinzenta antracite). Os corpúsculos coloridos microscópicos depositam-se nas penas com uma densidade inferior pelo que se diz que a melanina está diluída.
· ISABEL - Ausência total de melaninas pretas (eumelanina) e diluição da feomelanina, impedindo a exteriorização da cor marrom, como ocorre nos canelas.
Salienta-se que nos acasalamentos devemos dar preferência a canelas e ágatas de pigmentação máxima.
Evidencia-se, como corolário, a necessidade de tirar partido do genótipo e do fenótipo de alguns canários, face ao seu elevado valor genético, independentemente de algumas eventuais deficiências que poderão ser minimizadas em acasamentos futuros.
FACTORES DOMINANTES LIGADOS AO SEXO
É de primordial importância que o criador conheça as características genéticas dos seus exemplares de modo a realizar os acasalamentos correctos.
Diz-se que um caracter é dominante quando está dotado de uma força capaz de jamais ser influenciada por qualquer outra.
O gene que possui essa força impede a possibilidade de exteriorização de qualquer outro gene que lhe esteja associado.
Os canários de pigmentos melânicos que possuem pigmentos de dois tipos – negro e marrom e que poderão ser verdes e/ou azuis, actuam como dominantes relativamente aos demais, isto é, os Ágatas; Canelas e Isabel.
Acresce salientar que um canário negro-marrom poderá portar o ágata ; Canela e isabel na dependência da ocorrência do “ crossing-over”,ou seja, o entrecruzanento cromossómico, ou eventualmente o pastel, marfim, opala, ino.
Como a transmissão dos caracteres é feita através do cromossomo sexual é facil ao criador, conhecendo os factores ” portados ”, prever a cor e o sexo, efectuando os acasalamentos de maior interesse.
No que concerne aos exemplares de linha escura as fêmeas são sempre puras relativamente aos pigmentos melânicos que apresentam.
Assim, uma fêmea ágata, canela ou isabelina portará somente o factor melânico exteriorizado na plumagem.
Os machos, sendo heterozigotes, podem trazer latentes outros factores que apelidamos de – “ dominados ”.
Acresce referir que o termo “ portador ” está associado a canários heterozigotes.
PIGMENTOS MELÂNICOS ;FACTORES DE OXIDAÇÃO E DILUIÇÃO
Nos canários machos a unidade sexual é conhecida por X (cromossoma), conquanto que nas fêmeas é denominada por Y.
Assim, uma fêmea possui um cromossoma X (masculino), herdado do pai, e um Y herdado da mãe, sendo representada, genéticamente, por
X-Y.
Nos acasalamentos, quando um espermatozoide X fertiliza um óvulo X, o canário resultante é um macho que será representado por X-X.
Se o espermatozoide X fertilizar um um óvulo Y o canário resultante será uma fêmea que será representada por X-Y.
Os pigmentos melânicos, factores de oxidação e diluição, localizados nos cromossomas, são os responsáveis pela transmissão dos caracteres genéticos.
A simbologia abaixo referenciada sintetiza grande parte da conceptualização já referenciada, a saber:
Feomelanina marrom representar-se-á por |
M |
Eumelanina, pigmentos negros será representada |
N |
Máxima oxidação dos pigmentos melânicos |
O |
Ausência de eumelanina |
n |
Diluição dos pigmentos melânico |
o |
FÓRMULAS GENÉTICAS DE EXEMPLARES MELÂNICOS
A simbologia supracitada permite-nos estabelecer as diversas fórmulas genéticas.
Contudo, é de salientar que os quadros de cruzamentos são previsões que se aproximam do real,como será de esperar:
CANÁRIOS |
MACHOS |
FÊMEAS |
OBSERVAÇÕES |
VERDE/AZUL |
X X MM N N OO |
X Y M N O |
|
ÁGATA |
X X MM NN oo |
X Y M N o |
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CANELA |
XX MM nn OO |
X Y M n O |
|
ISABEL |
X X MM nn oo |
X Y M n o |
|